Prólogo
Estacionei o carro em frente ao restaurante sabendo que não havia
qualquer possibilidade de que a noite acabasse em outro lugar que não fosse nos
já conhecidos quartos de hotel, com a mesma trilha sonora, ainda mais fadada.
Conferi minha imagem no espelho uma última vez para ter certeza que tudo estava
de acordo antes de entrar.
- Não precisa se preocupar tanto, você está ótima como sempre. –
comentou ela revirando os olhos antes de sair do carro.
- Gosto de cuidar dos detalhes, sabe bem disso. – retruquei entregando a
chave ao manobrista. – Não gosto quando as coisas fogem ao controle.
- Besteira,- caçoou Roberta sorrindo ao metre que nos aguardava. – Como
se fosse durar muito tempo.
Ri do comentário capcioso que deixara no ar. Ela tinha razão, mas ainda
assim, precisava saber que tinha o controle da situação ao menos por um tempo,
mesmo que soubesse que aquilo era mera ilusão. E isso incluía os mínimos
detalhes.
O homem que conversava com Laura alegremente olhou para mim esperando
que lhe desse as instruções necessárias, como de costume. Sorri para ele,
divertindo-me por um momento com aquilo, ele era o melhor cúmplice que
poderíamos ter conseguido em um lugar como aquele, dadas as circunstâncias.
- A mesa de sempre, El? – perguntou.
- Acredito que sim, - pisquei para ele. – Quanto mais discrição melhor.
- Concordo, - comentou ela.
Ele assentiu apontando para o caminho que já éramos habituadas a seguir.
Aquela era uma rotina que, talvez um dia, eu cansasse de seguir, mas por
enquanto era o que me permitia esquecer tudo, como se fosse outra pessoa a
estar caminhando sobre aquele mármore.
Por instante senti todos os músculos do corpo se retesando, Laura
parecia não entender porque parei de repente a sua frente e nem entenderia. Pela
primeira vez minha intuição falhara: a noite não acabaria como todas as demais
daquela semana, não se eu pudesse evitar isso.
- Sabia que me olharia dessa maneira El.
Estremeci ouvindo aquela voz pronunciando meu nome daquela forma
novamente. Mas me mantive firme, não daria à ele o mesmo gostinho. Não dessa vez.
A história agora era outra.
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