Basta um momento...



Girei a maçaneta sabendo que, ao abrir a porta, o encontraria absorto diante da tela do computador como de costume. Uma cena tão corriqueira que nem me surpreendia mais quando encontrava a sala imersa em sua penumbra, quase em absoluto silencio, não fosse pelo som dos dedos passeando pelas teclas como se o trabalho necessitasse ser concluído em só dia. Será que não havia possibilidade de esquecer aquilo tudo por um momento? Tudo era tão importante assim?
Era isso que iria descobrir.
- Não sabia que viria, - disse levantando os olhos para me encontrar a porta.
- Senti sua falta, - dei de ombros. – Resolvi vir.
- Ando um pouco ausente, não é? – perguntou pousando os óculos sobre a mesa. – Estranho que não tenha sido avisado de sua chegada.
- Queria fazer uma surpresa e dispensei a secretária. Fiz mal?
- Não, - respondeu estendendo-me a mão. – Faria isso para ter certeza de que estaríamos à vontade.
Não contive o sorriso diante daquele comentário, enquanto contornava a mesa para me juntar a ele.
Precisava senti-lo mais perto, tocar, afagar...
Sentei-me em seu colo, roubando-lhe um beijo rápido, como se dissesse, silenciosamente, que precisava dele em cada segundo do meu dia.
E não mentira.
- Ainda vai demorar aqui? – mesmo que soubesse que estávamos sozinhos, sussurrei.
- Não, acho que não tenho mais concentração para o trabalho hoje.
- Ah, a culpa é minha? – perguntei envolvendo seu pescoço com os braços, tentando parecer culpada. – Posso ir embora, se desejar.
- Uma parcela sim, - respondeu segurando-me pela cintura. – Mas não quero que vá.
- Só uma parcela? – sussurrei roçando os lábios no canto de sua boa. – E posso saber de quem é a outra?
- Pode, - a voz ficando rouca. – Com uma condição.
- E qual seria? – beijei seu queixo antes de olhá-lo novamente.
- Essa, - os dedos prenderam-se em meu cabelo puxando-me para si com urgência.
Não ofereci qualquer resistência aos lábios que se moldavam aos meus com ânsia, era o que havia desejado durante todo o dia.
 A mente imaginando aquela cena com riquezas de detalhes, que me faziam estremecer.
Ele também não reprovou o fato, de que eu não ocultava o que tanto desejava sentir. Mesmo que já conhecêssemos cada detalhe um do outro, a sensação era sempre distinta a cada nova vez que a experimentavam.
- Tem certeza de que quer aqui? – sussurrei arfante enquanto me deleitava com a sensação de seus lábios tocando a pele sensível de meu pescoço.
- Absoluta, - respondeu deixando as mãos brincarem com os botões da camisa que eu usava.
Tornei a beijá-lo com urgência, poderíamos ficar naquele jogo para sempre sem que me cansasse dele. Passei a perna por sobre seu quadril, prendendo-o sob meu corpo. As mãos afoitas e autoritárias, puxando-me para mais perto, acariciando a pele arrepiada de minhas coxas que a saia justa deixava à mostra, enquanto subia.
Senti os pelos do corpo se eriçando sob aquelas caricias impudentes que me tiravam qualquer resquício de concentração. O pudor havia sido deixado no estacionamento, trancado no porta-luvas do carro.  O corpo em alerta, sabendo que existia o risco de sermos surpreendidos a qualquer instante, mas aquilo não importava para nenhum dos dois, apenas precisávamos daquilo, sentir que ainda erámos capazes de arrancar um do outro os mesmo suspiros que no início de tudo.
Não existiam obstáculos que não fossem vencidos por mãos que desejavam o contato com a pele que se aquecia a cada nova investida. Os corpos pareciam se encaixar perfeitamente enquanto os movimentos se sincronizavam, tornando a respiração pesada.
 Era a mais clara nota de que seguíamos o caminho certo.
Suspirei, deixando-me repousar em seus braços enquanto ocupávamos a mesa a nossa frente, era impossível não desejar mais espaço quando o corpo clamava por mais.
 Fechei os olhos deixando as mãos explorarem os músculos que saltavam sob as pontas dos dedos enquanto mostravam que podiam manter-me ali, presa, sem qualquer possibilidade de escapatória, uma caça, completamente ao dispor de seu algoz.
Não havia nada melhor que o som ofegante de sua respiração em meus ouvidos, aquecendo ainda mais a pele que parecia se derreter sob suas mãos.
A única certeza que havia em minha mente, era a de que pertencia àquele homem e isso jamais mudaria.
Com essa certeza, não era capaz de esconder a felicidade que saltavam dos meus olhos, ali, admirando aquelas feições tão perfeitas. Eu o amava e isso bastava, ainda que todos dissessem o contrário. E diante disso, nada mais importava.



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