Finale


Fim. Uma palavra tão curta, mas que pode mudar toda uma vida. Uma palavra com apenas três letras, mas possuidora de um significado imenso. Divagações tão sem necessidade para alguns, que sequer sabem o que se passa com os demais e, mesmo que saibam, não faz nenhuma diferença em suas vidas tão atribuladas.
Fim. A palavra que ecoava em minha mente, enquanto terminava mais uma garrafa daquela vodca barata que ardia minha garganta enquanto descia. Era difícil pensar em qualquer coisa com aquela quantidade de álcool no organismo. Eu sequer ouvia as palavras altas que emanavam das demais mesas.
Talvez fosse drama, uma idiotice como diziam os que dedicam escassos minutos à meu ouvir. Eu não tinha do que reclamar, muitos outros diziam. Bebi mais uma dose que aqueceu minha garganta, não era mais tão ruim ter aquela sensação. Não depois de ter passado noite e mais noite em claro, chorando e tentando fingir, no dia seguinte que estava tudo bem para os outros.
Sim, era drama. Eu já tinha me convencido disso. Apenas era uma pessoa dramática, não sabia ouvir um não ou mesmo ser contrariada. Só era uma menina mimada, acostumada a ter tudo nas mãos e não sabia o que era sacrificar qualquer coisa pelos demais.
Levantei, tentando parecer firme o suficiente para caminhar até o banheiro. Com a garrafa na mão, nem o copo era mais necessário, passo após passo cambaleante, a única intenção era ficar só. Só, sorri para o chão sujo que se seguia diante de mim. Só era a palavra que melhor definia aquela situação. A minha situação.
Era assim que tudo ia acabar, não era? Solitária dentro de um banheiro vazio, bêbada. Irônico, não é? Alguém que supostamente sempre esteve cercada de pessoas, de vozes que pareciam se importar, de tantos amigos, acabar sozinha dentro de um lugar como esse?
Sorri novamente para o meu reflexo no espelho, já não era uma aparência feliz, piorada muitas vezes mais pelo álcool ingerido e pelo drama em que insistia viver. Sim, é melhor assim, disse a mim mesma, não existem mais forças e, menos ainda, motivos para continuar.
Deixei a garrafa cair no chão, ouvindo o som do vidro se estilhaçando, já não aguentava mais ouvir, dia após dia, que era apenas drama, que não entendia o que me era dito, que precisava fazer algo de que gostasse porque teria apoio. Não suportava saber que todo mundo esperava de min alguma coisa, mas que em momento algum, pensavam em retribuir, com um abraço de compreensão que fosse.
Parei de ignorar o peso do corpo e me deixei cair ao lado da bancada, sem me importar com os cacos que se espalhavam pelo chão. A dor que atingia os pontos onde eles se encravavam era reconfortante, quase um doce convite.
Fim. Fim. Fim...
Fechei os olhos e deixei as lágrimas rolarem livremente. Livres como jamais havia chorado por medo de que alguém visse, ouvisse e, principalmente, porque ninguém jamais as entendeu. Meus dedos envolveram um pedaço maior do vidro com tamanha ânsia, a dor invadindo a pele, aplacada pelo calor do sangue que escorria encontrando o vidro.
Alívio. Se precisasse descrever a sensação para alguém naquele momento, esse seria o resumo. O corte não era feito de forma regular, mas o que era na minha vida? Apesar da dor aguda que atingia meu cérebro, tudo que eu sentia era um peso sendo retirado de minhas costas enquanto eu rasgava a pele dos meus braços.
Sozinha. Era assim que havia vivido e seria assim que acabaria. Sozinha.


0 comentários:

Postar um comentário