Como o sabor do vinho





Como controlar as imagens que surgem repentinamente diante dos olhos, despertando aquele desejo insano? Como não recordar aquelas palavras que fazem a pele ruborizar quando sussurradas ao pé do ouvido? Ou esquecer a sensação dos pelos se eriçando sob o toque tão íntimo das mãos sábias? Isso, certamente era o que impulsionava a vontade de conhecer as diversas formas de uma percepção que os sentidos são capazes de captar, cada vez de uma maneira nova e surpreendentemente agradável.
Os corpos aninhados preguiçosamente sobre o macio tapete, com as taças brincando entre os dedos despreocupados como se nada lhes abalasse a confiança. A luz fosca proveniente das chamas que alimentavam a lareira sustentando a leve penumbra que envolvia o ambiente; o calor que dela vinha cuidando de aquecer os corpos superficialmente. Circunstancias que faziam a mente fervilhar, criando e recriando as cenas do que poderia acontecer depois de mais algumas doses daquele vinho.
E todas elas poderiam se passar ali mesmo, naquele espaço que parecia tão acolhedor, aconchegante, sem que houvesse um único murmúrio de protesto, na verdade seria mais que perfeito se ocorresse da maneira como concebia a ideia. Sentir a pele se aquecendo aos poucos sob seus toques despudorados, perder o folego quando seus lábios envolvessem os meus apressados, os peitos arfantes pressionando um ao outro contra o chão frio.
O corpo se acendeu como aquelas menções, ansiando por tudo aquilo.
Prostrei-me de joelhos diante dele, as mãos pousando tranquilas sobre sua cintura, deixando os olhos se entenderem no silêncio ameno por um breve instante o que estava mais que claro para ambos.
Por que não dar formas concretas àquilo que habitava meus mais íntimos pensamentos?
Era esse impulso que conduzia as mãos que encontravam o fim do suéter que cobria o tronco de músculos rijos chamando-o, instigando-o a participar daquele jogo, enquanto os lábios tratavam de encontrar os seus.
As pernas envolveram seu quadril de maneira firme, segura, prendendo-o sob o meu corpo. Suas mãos astutas se livraram da blusa que usava com destreza, da mesma forma como as minhas cuidavam de despi-lo deixando exposto aquele que seria meu primeiro alvo.
Os olhos aguçados e calorosos seguiam, um a um, os gestos que fazia parecendo deliciar-se com cada um deles, isso estimulava os anseios que pareciam ser infinitos, insaciáveis, incontroláveis.
Como se soubessem o que fazer, os lábios traçaram um caminho por seu peito, mornos, aquecendo a pele que descobriam, sentindo-a se retesar sob eles. Os dedos autoritários entrelaçaram-se em meu cabelo mantendo-me ali, saboreando o gosto de sua carne, deixando-o cada vez mais agitado sob meus toques. Sua respiração ofegante, os gemidos e murmúrios se combinando ao som do crepitar das labaredas que dançavam na lareira, ditando a melhor trilha sonora que aquele enlace poderia ter.
Mas, repentinamente, tornava-me objeto de minhas provocações, cobiçando aquela sensação a pele respondia aquecendo-se com cada contato. A boca afoita encontrou a pele sensível de meu pescoço, fazendo-me estremecer sob aquele corpo confiante. O tapete roçava minhas costas nuas enquanto aquela barba mal feita arranhava meu rosto provocando arrepios que avivavam as sensações sem existir nenhuma resistência, os lábios deslizavam buscando uma maior quantidade de pele para desfrutar, castigando um corpo já ansioso.
Arrancando gemidos, que ganhavam mais intensidade a cada nova investida daquela boca experiente que deixava para trás um caminho rubro por onde passava. Ele teria de mim o que quisesse se aquele jogo prosseguisse naquele ritmo. Gostava da autoridade que seus toques traziam para minha pele, apreciava a sensação de ser dominada daquela forma. Os lábios tornaram a se unir ávidos, as mãos cuidavam de aproximar como podiam os corpos que se encaixavam na sua dança sinuosa.
Os músculos trêmulos e extenuados buscavam forças para manterem-se ativos enquanto se moldavam, em perfeita sincronia, um ao outro. Aquele contato produzia um calor intenso, fazendo ignorar os arrepios que eriçavam os pelos do corpo, atribuindo-os somente aquela situação. Os olhos se encontraram novamente, parecendo incendiados pelo desejo de ter aqueles momentos repetidas vezes. Já não precisava de muito para que soubessem como queriam possuir-se.
As vontades simplesmente iam se revelando com o que ia se desenrolando na pequena distância que nos permitíamos ter um do outro. Entre gemidos de contentamento, os lábios audazes e impudentes, tratavam de assanhar os ânimos novamente, pareciam se negar a perder o que já haviam conquistado para satisfazer suas necessidades crescentes.
Por que não dar ao corpo tudo o que implorava? Por que não ir até os limites que as forças permitiam? Por que não dar aos lábios aquele sabor, tão doce como o sabor do vinho?








Fim...

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