As águas do teu beijo



Talvez seja apenas isso. Deixar o que é sempre censurado e reprimido simplesmente fluir.  Ao menos uma vez na vida se permitir seguir somente os instintos por um caminho antes desconhecido e por vezes temido que possa se revelar extremamente satisfatório e prazeroso. E, naquele momento, era exatamente isso o que fazia.
Nunca imaginei que pudesse ser tão difícil manter a contração em duas coisas ao mesmo tempo. Estava completamente absorta nele e, não era de se espantar o motivo. O simples fato de estarmos tão próximos como jamais estivemos já bastava para derrubar todas as minhas defesas cuidadosamente construídas.
Segurei o mais firme possível as rédeas para me lembrar de onde estávamos, mesmo que minha vontade fosse deixar o cavalo levar-nos para onde bem entendesse. De preferência para o mais longe possível. Aquele jogo estava ficando perigoso e ambos sabíamos qual seria o fim. E para ser sincera, o perigo sempre me atraiu de uma forma encantadora.
Em seu colo sobre a sela, recebendo todas aquelas caricias já não respondia coerentemente aos meus atos, o que já acontecia naturalmente quando junto a ele. E um dia como aquele merecia um desfecho ainda melhor que o inicio e se dependesse de mim assim seria.
A cada movimento que o cavalo fazia, mantendo-me presa a seu corpo pela cintura, provocava novas sensações e consequentemente ia inflamando os ânimos já alterados pela situação. O que apenas piorava a cada parada que resolvíamos fazer a caminho da cachoeira que parecia nos aguardar.
Parados ali a margem do rio que se formava e ainda montados dávamos continuidade ao que iniciamos com aquela cavalgada que de inocente não tinha nada. As mãos bobas, extremamente sábias, conheciam perfeitamente o que presumidamente se dispunham a tocar arrancando arrepios da pele já aquecida.
Soltei-me daquele abraço sem querer realmente fazer isso. Desmontei sentindo os pés tocarem a grama que cobria o chão. Ouvi-o fazendo o mesmo, mas não me virei para olhá-lo. Fitava a queda que se apresentava logo a minha frente. Era algo fascinantemente atraente e com toda certeza despertava ainda mais as fantasias que minha mente era capaz de produzir naquele instante. Algo que com toda a certeza era proibido para menores.
Sem pudor algum me livrei da camisa e do short que usava e adentrei o rio sentindo leves tremores percorrendo o corpo pela súbita mudança de temperatura que me acometia. Com a água fria na altura da cintura senti as mãos firmes envolvendo meu tronco prendendo-me novamente junto a ele. Eu registraria todos os detalhes daquele enlace, cada toque, uma a uma as sensações.
Assim, com os seus braços me mantendo presa a seu corpo, deixamos que a água  nos encobrisse ainda mais. Quase completamente submersos as caricias se tornavam cada vez mais intensas e impudentes. Os olhos se encontraram por tempo suficiente para deixarem evidente o quão entregue estávamos. Busquei seus lábios com mais intensidade que da primeira enquanto ainda montávamos. Precisava sentir aquele sabor novamente para me certificar de que não o esqueceria. Estava completamente disposta a ceder a qualquer um de seus estímulos, que não eram poucos.
Recostada em uma das pedras que findavam a queda d’água, com cada gota que caia molhando a pele que já parecia não sentir mais nada além dos afagos macios daquelas mãos fortes e autoritárias que tinham um grande conhecimento de causa, deixei que apenas os instintos alimentados pelo desejo que me consumia falassem mais alto. Vi meu corpo contrastando com o seu em uma dança que poderia durar por dias, ou até mesmo anos.
Aninhada em um peito arfante, com os lábios tinhosos percorrendo cada centímetro que lhe era permitido - e até mesmo aqueles que não eram -, deixei que apenas a situação se incumbisse de mostrar o caminho a seguir. Caminho do qual jamais me arrependeria ter iniciado a trajetória, que seguiria quantas vezes fossem necessárias, sem receios de me enganar.
Banhados pela água que se aquecia com o calor que nossos corpos produziam, a entrega completa foi inevitável. Aquele seria apenas o começo de um prazeroso encontro. Com as imaginações fervilhando e emoções a flor da pele, todo aquele processo seria rapidamente repetido e recontado de diversas formas ou outros lugares.
Eu queria ficar ali por incontáveis horas, dias, aprender com sua experiência aquilo que com tanto afinco parecia querer me ensinar, ser uma de suas discípulas mais fieis.  E, ser de suas alunas  a mais dedicada.
Não existia uma maneira de explicar como o corpo reagia àquela sensação viciante que já havia se impregnado aos poros. Os corpos banhados pela correnteza forte e fria que servia de desculpa para os tremores que insistiam em açoitar a pele, perturbando a capacidade de racionalizar os atos a cada toque. Os lábios buscando-se com uma ânsia faminta e urgente tirando o folego de quem já estava ofegante parecendo poder se consumir apenas com um olhar.
As mãos firmes tocando com autoridade, explorando, esquadrinhando cada centímetro da pele sensível e quente, como se o corpo completamente entregue a elas lhe pertencesse - uma realidade que ja não era mais possível negar -, arrancando suspiros, gemidos e murmúrios de uma boca que buscava manter-se ocupada com lábios dos quais sempre desejou conhecer o gosto.
Ceder aos estímulos precisamente colocados, deixar a imaginação guiar os lábios sabidos pelo caminho inusitado de um corpo suscetível despertando uma eloquente vontade de ir cada vez mais longe. Tudo o que era possível pensar era em se deixar possuir. 
Desde o inicio sabia que aquela brincadeira acabaria assim. Estava disposta a apostar todas as fichas que logo não conseguiríamos mais conter nossos próprios ânimos. E com toda certeza aquele era o melhor lugar para perdermos o controle por completo. Sozinhos, longe de tudo e todos, podíamos fazer o que bem entendêssemos.
Ainda arfante deitei sobre o pelego que havíamos deixado estendido na margem do rio. A pele umedecida pela água e pelo suor roçava a lã macia provocando arrepios que só se intensificavam com a proximidade daquele corpo tão aquecido quanto o meu. Deixei que minhas mãos conhecessem e apreendessem cada detalhe dele, a ponta dos dedos acariciando o peito que há pouco me pressionava contra uma das pedras sob a queda d’água. Elas ainda estavam trêmulas tentando absorver tudo o que havia descoberto em tão pouco tempo.
Com aquele sorrisinho malicioso moldando os lábios, o mesmo que conhecia bem de outros tempos, suas mãos afagaram minhas coxas delicadamente. Nem naquele momento deixávamos os jogos e provocações, e a cada nova investida um turbilhão de novas sensações que vinham acompanhadas de um novo desejo que fora reprimido.
De uma leve caricia sorrateira a um toque vigoroso e ditador levando-me para seu colo com um gemido incontido. Nenhum de nós era capaz de comandar aquele enlace, as regras surgiram de acordo com os anseios que se apresentavam. E, sinceramente, isso não era relevante naquele momento, bastava dar um ao outro o melhor que podíamos.
Deixei que meus olhos percorressem toda extensão daquele corpo que me mantinha constantemente ligada a tudo que acontecia ali. Cada músculo que pareciam vibrar sob meus dedos, cada linha de seu rosto, seus lábios. Prendi-me a seu quadril envolvendo-o com as pernas pressionando meu tronco contra o seu eliminando toda a distância que quase não existia, sentia o calor que ambos emanávamos.
Estávamos ofegantes novamente, era difícil forçar meu cérebro a executar algo que deveria acontecer naturalmente, mas não conseguia respirar sem parecer sufocar. Era ainda pior quando sua boca, que começara a traçar uma linha em meu pescoço, deslizava cada vez mais longe do inicio daquele caminho que eu sabia onde acabaria.
Minhas mãos mantinham seu cabelo entrelaçado em meus dedos evitando que afastasse aquele hálito quente de minha pele que estava ainda mais sensível. Havia uma perfeita sincronia entre aqueles lábios e as mãos parecendo conhecer cada ponto em que chegavam. Com aquelas incitações constantes não havia como alguém resistir por muito tempo, estremeci em seus braços me entregando mais uma vez ao êxtase.
Os músculos ainda eram arrebatados pelos espasmos daquela sensação deliciosa que não me permitia reagir, quando minhas costas molhadas de suor encontraram a grama rala e úmida que cobria o chão. O cabelo ensopado grudando no corpo, o peito em um constante sobe e desce tentando acalmar uma respiração que não entrava mais em compasso.
Ainda não estava preparada para dizer chega. Cada parte de mim implorava por mais sempre que recordava de todas aquelas cenas. Esperara tanto para ter tudo àquilo que queria repetir enquanto ainda possuía forças para isso.
Fechei os olhos e deixei que a boca que jamais deveria abandonar a minha por um tempo tão longo, se encarregasse de alimentar aquela chama que ainda não havia sequer diminuído. Nossos corpos se encaixaram novamente prendendo-me contra o solo não dando possibilidade de escape. Mas não sairia daquela posição enquanto não tivesse tudo o que podia, queria arrancar dele até a última gota do que tinha a me oferecer.
Aninhei-me ainda tremendo em seu peito, com seus braços me trazendo para mais perto. Sentindo aquele cheiro que estaria presente em todas as minhas fantasias a partir daquele momento, deixei o corpo começar a relaxar já ansiando por uma nova rodada.



FIM.


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