Enclausurados




O aroma que recendia pelo quarto era instigante. Uma mistura de nossos perfumes: madeira e âmbar. Um cheiro mais que convidativo para o momento, algo totalmente sedutor. Tudo ali parecia preparado para um encontro regado pelo mais puro prazer daqueles que dispunham a se entregar cegamente testando a confiança que se deposita no parceiro. Ao adentrar aquele pequeno espaço, era preciso estar ciente que não sairia ileso, o corpo carregaria as marcas daquela noite. E por que não se deixar arriscar?
Feche os olhos e deixe fluir aquele segredo que tanto esconde. Torne-o palpável, não se culpe por desejar isso. A mente trabalhava para que desistisse, mas o corpo traçava um caminho na contra mão e ia de encontro a minha mais íntima vontade. Por que não libertar apenas um dos desejos aprisionados? Ter uma noite de prazer não pode ser considerado errado, pode? Não me preocupava com a resposta.
As mãos não sabiam como agir, o que fazer ou como fazer, mas fariam o que fosse necessário para ter tudo o que queriam. Era o momento de expurgar todo o receio, o pudor e a timidez. Era o momento de mostrar tudo o que sabia, aquilo que queria e o que poderia aprender. Era o momento de se libertar completamente do que sempre prendera.
Poderia ser submissa, deixar-me dominar por aqueles braços fortes, o que com toda certeza seria maravilhoso. Mas por que ceder a outro se podia satisfazer minhas próprias necessidades? A sensação de possuir alguém da forma que quisesse era inexplicável. Vê-lo ali impotente sob o meu comando, com os olhos vendados completamente a minha mercê, excitava-me ainda mais.
A pele ansiosa encontrou o pulso avermelhado preso por uma tala de cetim negro, acariciando lentamente cada um dos músculos salientes de seu braço, seu peito arfante até se fazer ouvir o estalar dos lábios mornos em contato com a tez branca. O som que escapou de sua boca inquieta denunciava que gostava da situação em que se encontrava o que incentivava mais as provocações.
Às vezes me perguntava o que mais nos proporcionava prazer, e a resposta parecia óbvia. Aquele jogo de poder, o desafio implícito, dar ordens era o que incitava, fazia querer ir mais longe, conhecer qual o limite, até onde era capaz de chegar, o que tornava tudo ainda mais interessante, estimulando a vontade de inverter os papéis e mostrar quem era melhor no controle, quem poderia fazer o outro implorar por mais daquele êxtase torturante, que parecia poder romper a pele a qualquer momento.
Ecoava pelo quarto o som dos lábios esquadrinhando cada detalhe, centímetro por centímetro do corpo inquieto e aquecido na cama. Não lhe possibilitava ter a visão do que fazia, misturando gemidos e sussurros aquele barulho animador que acabava deixando a pele enrubescida a cada nova investida.
Montei em seu quadril sentindo seu corpo receptivo ao meu como queria que estivesse. Passei as unhas pelo peito irrequieto, deixando-o ainda mais vermelho. Apoiando-me nos joelhos, alcei-me até o seu pescoço roçando a ponta do nariz ali, a boca ocupando aquele lugar em seguida, deixando os lábios, os dentes, a língua sentir o sabor da carne que mordiscavam. Sorri quando seu corpo ficou ainda mais agitado sob o meu. Encontrara o ponto exato.
Com sua respiração ofegante aquecendo a pele nua de meus ombros, estendi os braços para alcançar as pontas da venda. Suas mãos forçavam as amarras tentando se soltar em um esforço vão, parecia querer acelerar o ritmo que estipulei. Meus dedos desfizeram o pequeno nó que pendia a gravata sobre seus olhos deixando-a cair sobre o colchão.
Os olhos que se encontraram pareciam em chamas, pedras que pareciam ter um calor que poderia derreter o que tocassem, consumindo o que eram capazes de encontrar no seu reduzido campo de visão. Os murmúrios abafados se combinando aos gemidos e pedidos que se intensificavam a cada nova prova que o corpo era submetido. Chagamos ao primeiro de muitos momentos de extremo prazer que teríamos naquele encontro apenas com aquele jogo de quem controlava, dominava a situação.
As mãos começavam a perder o domínio seguro que demonstravam no inicio e ele sabia que as coisas estavam prestes a mudar. Os pelos que se eriçaram sob o toque firme dos dedos recém-libertos das singelas algemas que envolviam meus braços, apenas apontavam onde e como aquilo iria acabar. Todos os instintos estavam em alerta, prontos para serem colocados em avaliação quando necessário.
Um arrepio percorreu a pele aquecida quando os braços, antes impossibilitados de tocar, fecharam-se ao meu redor tornando-me prisioneira daqueles lençóis que exalavam o seu cheiro. O gemido abafado que saiu da boca entreaberta que buscava uma maneira de se encaixar a sua sem perder o controle, alertava que as posições se invertiam. Era minha vez de obedecer algumas ordens a partir daquele momento.
Sem tirar os lábios dos meus, senti seus dedos roçando meus braços devagar causando uma sensação de excitante inquietação. As faixas de cetim que anteriormente o prendiam ali, no lugar onde eu estava agora, tratavam de me manter refém de suas caricias afoitas. A dominadora, agora completamente submissa, ansiava em ser possuída por aquele corpo que emanava uma forte impressão de poder sobre mim.
A penumbra deu lugar à escuridão completa quando a gravata assumiu seu lugar sobre meus olhos deixando os demais sentidos ainda mais sensíveis e instáveis aos seus toques. Era uma brincadeira que exigia confiança, não era? E eu confiava no que ele faria comigo. Tinha plena certeza de que chegaria ao êxtase extenuante assim que ele o desejasse. Nos lábios um sorriso feroz surgiu como se instintivamente o corpo dissesse: “venha, possua-me como desejar, sou inteiramente sua”.




FIM...?

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