PRÓLOGO
Estar
ali cercada por tantos rostos, alguns que sequer me
lembrava de ao menos ter visto algum dia, tornava a tarefa de encontrar uma
forma de compreender o que estava acontecendo mais difícil. Em um momento era
tratada como culpada sem nem saber pelo acusavam-me e noutro todos sorriam para
mim como se pudesse ser a salvação que tanto esperavam.
Por
que olhavam para mim daquela maneira? Era apenas uma criança amedrontada que
vasculhava cada centímetro quadrado daquele lugar com um olhar apreensivo na
esperança de encontrar apoio, não havia nada que pudesse lhes oferecer. Ao
menos era o que pensava.
Onde
estavam meus pais naquele momento? Por que me deixaram ali sozinha com aquelas
pessoas que não conhecia? Queria chamar por eles, mas temia que se tentasse
cairia em prantos diante de toda aquela gente. Queria sair correndo para que
nenhum deles conseguisse me tocar, mas minhas pernas também não reagiriam como
desejava. Estava com medo e meu corpo tremia como se exposto a um frio glacial,
não sabia como me portar e certamente não me manteria firme por muito tempo.
Repentinamente
e para meu alivio, meus olhos encontraram um olhar familiar. Não contive o
impulso de me lançar para ele e ficar ali agarrada a seu corpo com toda a força
que meus braços trêmulos ainda possuíam. O abraço que me envolveu pareceu
devolver a vida que havia perdido quando deixada ali.
Minha
mente fervilhava formulando inúmeras questões que precisavam de respostas, mas
contive minha vontade e apenas repousei a cabeça em seu ombro e deixei que as
lágrimas que evitei durante todo o tempo fluíssem. Suas mãos afagaram meu
cabelo tentando inutilmente me acalmar.
Ouvi-o
a conversar com as demais pessoas ali presentes sem prestar muita atenção ao
que dizia. O som de sua voz tão calma, terna e familiar proporcionava uma
sensação de tranquilidade. Concentrei-me em seu sotaque fechando os olhos, era
como se tudo aquilo não passasse de um pesadelo do qual acordaria assim que conseguisse
abrir os olhos. Sem desfazer o abraço sussurrou em meu ouvido:
-
Tudo vai ficar bem, querida.
Eu, aconchegando-me ainda mais a ele, acreditei.
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