Qual era mesmo a
definição de loucura? Não conhecia outra mais adequada senão o que estava
prestes a fazer. Havia abandonado a sensatez junto à prudência, ambas
trancafiadas no porta-malas do carro, longe o suficiente para não interferir
naquela situação. Aquele surto de insanidade não me permitiria recuar, mas não
iria retroceder mesmo em pleno gozo de minhas faculdades mentais.
O único lembrete de
realidade era o roçar daquele tecido consistente contra a pele nua dos meus
braços, enquanto me mantinha presa contra seu corpo num forte e aconchegante
abraço, o que logo se perdia com o contato de seus lábios envolvendo os meus,
aquecendo cada centímetro de pele que existia. Era como se pudesse esquecer
onde estava ou com quem estava. Tudo no que era capaz de pensar era em desvendar
os segredos que aquela farda escondia.
Era uma tarefa
impossível tentar me manter controlada sob aqueles toques, não reagir à
sensação de ter aqueles dedos experientes descobrindo pontos sensíveis em um
corpo completamente suscetível. A alça da blusa que usava dera lugar aos lábios
mornos que desenhavam um caminho até minha jugular, arrancando-me arrepios que
se intensificavam com o contato da pele aquecida tocando o frio metal da
lataria do carro. Eu realmente devia ter perdido a razão, não havia outra
explicação para o que fazia naquele instante.
Minhas mãos
mantinham-no ali junto a mim, aquele hálito doce e refrescante brincando em meu
pescoço. Os dedos entrelaçados em seu cabelo – era como se eu pudesse tê-lo
como sempre desejei -, mas na realidade quem me tinha era ele. Deixava que
tivesse o que quisesse daquele contato. E ele sabia que não seria difícil
conseguir o que quer que fosse. Naquele momento faria
o que ele quisesse.
Aquela sensação de autoridade que tomava conta de cada
parte onde tocava era a responsável pela permissão inconsciente que meu corpo
dava para ser dominado. Aquelas mãos firmes que cuidavam de se livrar do pouco
tecido que envolvia meu tronco, não encontrariam nenhuma resistência a suas
investidas.
Sem ao menos dar-me
conta de minhas ações – já não tinha mais controle sobre meus atos e minha
atenção era toda dele -, as mãos ansiosas trataram de abrir a porta. O som
provocado por ela se abrindo apurava ainda mais os sentidos daqueles que
conheciam o fim daquela história. O banco traseiro de um carro pode ser mais
que suficiente quando se sabe o que fazer. E Ele certamente sabia.
Minhas costas encontraram
o couro frio do banco, o corpo pressionado por aqueles músculos tensos, a
respiração ofegante rompendo o silêncio que ali pairava, a imaginação começava
a se perder nas inúmeras brincadeiras que ele poderia fazer naquela penumbra
aconchegante. Os lábios voltaram a se encontrar ainda mais afoitos e urgentes
querendo sugar até a última gota do sabor que tinham a oferecer.
Não havia mais como
tentar reagir e abandonar aquela sandice, era bom demais para deixar a razão
assumir o controle novamente. E não era prejudicial ceder as suas loucuras de
vez em quando, nem mesmo deixar que um dos seus fetiches seja realizado. Às
vezes tudo que se precisa é realmente perder o controle.
Os corpos
encaixaram-se em perfeita simetria, tirando dos lábios teimosos gemidos de
satisfação. Era realmente prazeroso estar ali sob aquele corpo, sentindo o que
era capaz de fazer para dar contentamento aos seus desejos. Qualquer distancia
que pudesse surgir era rapidamente eliminada pelas mãos que sabiam exatamente
onde se apoiar.
Se antes estivera
suscetível a todo aquele contato, naquele momento a palavra correta a ser usada
era submissão. E era exatamente assim que me sentia: completamente entregue e sem defesa - não que precisasse ou quisesse ser defendida. Mas
quem nunca se imaginou sob o domínio de alguém? Ou quem já não desejou apenas
obedecer às regras do outro? Fazer exatamente aquilo que o parceiro quer que
você faça?
Aquela boca quente
explorava cada parte do meu corpo provocando calafrios que vinham acompanhados
de murmúrios de um peito já arfante. A pela suada parecia pegar fogo após cada
toque daquelas mãos sabidas. Obedientes, os instintos cediam aos comandos que
recebiam deixando-me completamente a mercê de meu algoz.
Era impossível não se
entregar aquelas carícias abusadas que buscavam conhecer, desvendar, revelar
todos os segredos que pudesse esconder daqueles olhos, não deixar corpo e mente
delirar, absorver uma a uma as sensações nele despertas.
De volta para onde não
deveriam ter abandonado, os lábios se uniram abafando os gemidos que insistiam
em se misturar ao som das ofegantes respirações que se confundiam no pequeno
espaço que lhes cabia. O corpo ainda trêmulo pelo esforço a que fora submetido
logo pediria por mais, mesmo cansado.
A sensação de poder
que aquelas mãos confiantes lhe davam era mais que viciante, como uma droga que
entorpece os sentidos mais aguçados deixando-os incapazes de esboçar sequer uma
reação. Talvez essa fosse a real fonte do desejo de muitas mulheres: sentir-se
dominadas como antes nunca foram. Ou ao menos era o meu...
FIM...
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