Jogada de Mestre





Preferia atribuir à causa do calor que insistia em tomar conta da minha pele à bebida e fingir que não me sentia atraída de uma forma perigosa por aqueles braços que se estreitavam ao redor dos meus, em uma ficta desculpa de guiar minha conduta. Simular que não era culpa daquela boca tão próxima a minha, ou ainda, aparentar que não era aquela barba roçando em meu rosto que tirava minha concentração já prejudicada pela ingestão de álcool, era tarefa difícil.
Talvez fosse apenas minha imaginação fértil e sádica que gostava de torturar meu corpo, deixando-o completamente desprotegido e desarmado contra os estímulos que sequer sabia de onde vinham, ou, poderia ser simplesmente o efeito de algumas taças de vinho que deixavam os ânimos desinibidos, impudentes - principalmente o meu. Mas para mim a situação estava propicia a perder o controle e deixar os instintos conduzirem o rumo dos acontecimentos.
Já não me importava com o resultado daquela partida de sinuca. Se no início queria apenas sagrar-me vencedora para usufruir dos benefícios que isso me traria, naquele momento tudo o que realmente desejava era que largássemos aquele taco e ocupássemos as mãos com outras coisas bem mais macias e atrativas para os sentidos. Forcei minha mente a se concentrar na jogada que ilusoriamente queria que aprendesse, mesmo que fosse difícil, senão quase impossível, ignorar a pressão daquele corpo empurrando-me contra a mesa.
O foco dos meus pensamentos eram aqueles lábios que certamente traziam o gosto do vinho que tomávamos e que aqueciam meu pescoço enquanto davam instruções que não queria seguir. Que mal teria se fosse eu a tomar a iniciativa? Poderia largar o taco de qualquer maneira sobre a mesa, virar-me ali mesmo e beijá-lo como tanto ansiava, simplesmente me prender a seu corpo com os braços e pernas trazendo-o para mim. Como evitar as cenas que a mente criava, iniciava e terminava? Ou ainda como não deixar o corpo reagir àquela proximidade?
As provocações inconscientes surtiam o efeito desejado. A mão já não segurava mais a minha tentando guiá-la como antes, agora deslizava por uma pele plenamente perceptível encontrando minha cintura, aproximando-me de onde eu desejava estar. Firme ali, mantendo-me junto de si, sentindo seu corpo rijo que àquela altura estava receptível ao meu. Os pelos se eriçaram provocando arrepios, correntes elétricas que percorriam toda extensão da pele, denunciando o risco que a situação representava para o meu tão minuciosamente elaborado controle.
Por que ainda segurava aquele taco com tamanha firmeza diante do que ocorria? Não deveria simplesmente soltá-lo e prender-me ainda mais aquele corpo como ansiava há muito? Deixar que minha pele aquecida cuidasse de transmitir o calor a dele? As mãos trêmulas que pareciam perder a confiança que apresentavam anteriormente encontraram dificuldade em soltar a madeira escura que caiu ruidosamente sobre a mesa. Ao contrário das minhas, as suas mãos sabiam exatamente onde e como tocar, acabando de vez com qualquer tentativa de resistência, despertando sensações antes apenas fantasiadas.
Desocupadas por um ínfimo momento, logo encontraram como se entreter:  entrelaçando os dedos no cabelo aproximando-o de mim, enquanto seus lábios atentavam em arrancar arrepios brincando em meu pescoço. Se já não controlava meus impulsos, com aquele toque autoritário puxando meu tronco contra o seu eliminava todo resquício de sobriedade, tornando-me suscetível. Prova disso fora o suspiro que escapou por meus lábios hesitantes sem conseguir contê-lo.
Já havia resistido demais àquilo tudo. O corpo já implorava por mais desde o início, a bebida apenas aflorara os impulsos que deixava adormecidos, escondidos pela necessidade de seriedade que agora podia ser esquecida por completo. Virei-me para ele encontrando uma boca tão afoita quanto a minha. Minhas mãos antes temerosas sabiam exatamente o que fazer agora, ansiosas por ter tudo o que os olhos não eram capazes de absorver. Os dedos trataram de abrir os botões daquela camisa revelando para eles um peito arfante que merecia ser explorado,  tocado, experimentado...
Encostei-me a mesa sentindo a pressão que fazia contra meu quadril prendendo-me ali. Suas mãos fortes encontraram a barra da blusa que usava tratando de se livrar rapida e facilmente dela. O contato da sua pele na minha provocou tremores que acaloraram ainda mais os entusiasmos, os lábios mornos e urgentes calaram o gemido que insistia em surgir.
Envolvi seu pescoço concretizando o que tanto desejava: segurar-me nele para evitar qualquer possibilidade de se afastar, de recuar, mas isso, certamente, não iria acontecer por iniciativa de nenhum de nós. Não naquele momento.
O espaço antes ocupado pelas bolas cedeu lugar as minhas costas que tocavam o tecido maltratado roçando a pele. Os olhos que se depararam por um breve instante pareciam provocar para ver até onde o outro seria capaz de chegar. Estava completamente envolvida naquela aventura silenciosa. Eu queria mais e iria até onde fosse para satisfazer aquela necessidade que parecia aumentar a cada toque.
Puxei-o para mim novamente, seus lábios envolveram os meus mais uma vez tirando-me o fôlego, enquanto suas mãos acariciavam meu corpo descobrindo pontos sensíveis de maneira despudorada deixando-me irrequieta sob ele. Encaixei-me àqueles músculos permitindo que me possuísse da maneira que quisesse, rendendo-me plenamente as vontades que não podiam mais ser suprimidas.
 Com um risinho sapeca moldando os lábios inverti as posições, os lábios que tanto ansiavam provar aquele sabor encontraram a pele daquele peito que ofegava sob os meus toques, e principiei as brincadeiras que a mente começou a criar e que deviam ser postas em prática para leva-lo ao êxtase a qualquer preço...



Fim...




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