Aula Magna




Não deveria estar ali, mas estava. Não podia desejar algo assim, mas o corpo implorava. Que mal causaria satisfazer um pequeno capricho? Por que não ceder a um pecado inocente de vez em quando? É necessário manter sempre a compostura? E a resposta certamente era não, chegara até ali e não recuaria nem um passo, queria isso como jamais quis algo em minha vida. Precisava experimentar a sensação de ter aquelas mãos tocando meu corpo, minha pele, saber do que eram capazes, do que poderiam arrancar apenas com seus toques.
O olhar fixo um ao outro como se pudessem se devorar sem se tocar, os lábios buscando uma maneira sutil de se aproximar já sabendo que quando se encontrassem seria difícil separá-los. E aquela voz sussurrando aos ouvidos: “vá, faça aquilo que tanto quer, não há espaço para prudência aqui”.
Por que temer quando seus instintos parecem tão bem compreendidos? E retribuídos? Tentados? Clamados? Não existia resposta diversa da que dei e mesmo que houvesse, não queria conhecê-la naquele momento.
As mãos estavam trêmulas pela excitação, mas ainda assim decidas e confiantes do que faziam. A linha tênue que separava a razão da inconsequência fora completamente dizimada quando as bocas se tocaram inesperadamente.
Recebendo a aprovação que esperava deixei os corpos se entenderem, entrarem em uma dança sinuosa. Os dedos ansiosos traçavam o caminho formado pelos pequenos botões do jaleco que ele usava, alimentando a imaginação já produtiva de uma menina.
 Sentada sobre a mesa a sua frente tudo o que se passava em minha mente era que aquilo era loucura, porém a loucura mais gostosa que teria a audácia de cometer em toda a vida. Encarreguei-me de terminar o trabalho que havia iniciado com aquele tecido áspero que rescendia a giz, certificando-me de que nenhuma daquelas peças de roupa estaria atrapalhando minhas mãos de conhecer minuciosamente seu objeto de desejo.
Não tínhamos pleno conhecimento de que era errado? Que estávamos quebrando as regras? Além de extremamente arriscado para ambos? Quando deixamos nossas vontades conduzirem os atos? Quando nos esquecemos das consequências que aquilo poderia acarretar? Sim, erámos absolutamente coerentes e conscientes para sabermos que não deveríamos estar ali em uma situação como aquela. Mas como é possível resistir a um chamado tão intenso? Como dizer não, quando suas mais íntimas fantasias podem ser realizadas e vividas sem receio? Se for necessário ser forte para isso, sinceramente, preferia continuar fraquejando.
A sala que sempre parecera tão ampla quando iluminada por suas lâmpadas fluorescentes comuns a todas as demais, agora parecia tão acolhedora e aconchegante imersa naquela penumbra languida que a madrugada trazia pelas largas janelas de cortinas semicerradas. Aquele certamente era o melhor lugar em que poderia estar. Não me sentiria tão bem nem em um quarto de hotel por mais luxuoso que fosse. Sempre quisera estar ali, assim, naquela companhia.
O caminho tão desejado daquela noite era marcado pelas peças de roupa espalhadas pelo chão. Aquela sensação eufórica alardeando o quão era perigoso, que alguém poderia abrir a porta e nos surpreender proporcionava uma ânsia ainda maior em se arriscar, de ir de encontro ao perigo.  Era estimulante, excitante.
Não havia melhor trilha sonora que a respiração ofegante ecoando em meus ouvidos. O corpo  respondia prontamente a cada um dos incentivos que recebia para ceder aquelas mãos tão sábias, aqueles lábios impudentes que criavam uma nova via para provocar ainda mais, testar até que ponto era competente em manter a sensatez.
Carícias cheias de malícia e autoridade que desligavam a razão de um cérebro acostumado à lógica e ao controle. A cada contato aqueles dedos inflamavam a pele que parecia poder se consumir em chamas sem muito esforço. Aquelas imagens esparsas que tornariam a mente quando menos se esperasse, naquele momento pareciam acontecer em câmera lenta para que pudesse apreender cada detalhe que os olhos eram capazes de ver e o corpo de sentir.
Enquanto aquela boca quente continuava seu vai e vem torturante por um corpo febril que clamava por mais, permitia-me exorcizar uma a uma as necessidades que surgiam ou que um dia foram reprimidas. Assolada por arrepios provocados por aquela barba mal feita em seu rosto roçando em meu pescoço. Deitando sobre o tecido fino do jaleco estendido no chão frio minhas mãos incoerentes ansiavam por descobrir cada pormenor de quem me entregava.
Envolvi o tronco que mantinha o meu aquecido com as pernas prendendo-me a sua cintura, deixando que meu corpo obediente se encaixasse novamente ao seu para que pudesse desfrutar de tudo o que poderia me dar. Os lábios buscando os seus com urgência querendo decorar aquele sabor que parecia se impregnar por todo o corpo.
Com as mãos desenhando o contorno daqueles músculos trêmulos que desejava levar a uma extenuante sensação de dever comprido, deixando seu calor invadir cuidadosamente minhas entranhas, animando mais o fogo que parecia queimar de dentro pra fora. Quanto resistiria assim presa naquele abraço? Por mais quanto tempo minhas mãos ainda conseguiriam se manter firmes àquele corpo?
Forcei-me contra seu peito proporcionando a minha pele o prazer silencioso de sentir a pele molhada de suor deslizar por cada parte nua que encontrava. Afrouxei-me a pressão que fazia com as pernas para me deixar envolver ainda mais por ele. Era o ápice do que poderia me proporcionar.
Meu corpo estremecia sob o seu que parecia mais quente a cada novo toque, os sussurros e gemidos escapavam pelos lábios entreabertos confundindo-se com a respiração entrecortada que ele exalava. Era o êxtase completo, sua pele contra a minha ali, onde imaginava por incontáveis vezes cenas como aquela.  
Ofegantes, um ao lado do outro fitando o teto baixo da sala, com o corpo absorvendo as particularidades do que havia acontecido de forma tão intensa impossibilitando qualquer reação diversa a que ocorrera. Sentia em cada centímetro de pele que envolvia meu corpo a potencia daquelas mãos que me tocara há pouco. Olhando-nos por um breve instante, compactuando aquele segredo que guardaríamos a sete chaves, desviamos o olhar para o teto sorrindo satisfeitos.





FIM.


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